Campeonato Brasileiro de 2009. Última rodada, Maracanã. Flamengo, líder da competição, enfrenta o Grêmio. No Beira-Rio, alguns tantos quilômetros de lá, o Internacional, rival gremista, encara o Santo André. Aos cariocas, a vitória garantia o título. O empate mantinha acesa a esperança colorada, caso os gaúchos superassem o time do interior paulista. No Sul, o Inter patrolava o adversário. No Rio, o Flamengo encontrava dificuldades contra um Grêmio reserva.
Peraí... Reserva? Sim. O Tricolor estava fora da briga pela Libertadores, estava classificado à insossa Copa Sul-Americana e não brigava contra o rebaixamento. Mas o principal não estava aí, mas no fato de, em partida paralela, o rival Inter poder se sagrar campeão em caso de vitória dele, Grêmio. Para surpresa geral, os reservas gremistas abriram o placar com Roberson. Aplausos? Talvez de poucos tricolores A grande maioria estava revoltada com a "disposição" do time, que, naquele momento, dava o Brasileirão para o... Internacional!
Na segunda etapa, o Grêmio não jogou para perder, mas visivelmente tirou o pé, administrou o resultado. Mas perdeu: 2 a 1. A torcida gremista comemorou. Na concepção, não se estava dando o título ao Flamengo, mas "tirando" do Colorado, "devolvendo" uma suposta "entregada" vermelha em 2008, quando o clube do Beira-Rio levou ao Morumbi uma equipe reserva para enfrentar o São Paulo, que brigava diretamente com o Grêmio pelo título nacional.
O estranho cenário de 2009 se repetiu em 2010, de formas ainda mais preocupantes. O exemplo mais sugestivo se deu quando a torcida do Palmeiras vaiou incansavelmente o atacante Dinei por este ter aberto o placar para o próprio Verdão contra o Fluminense, na reta final do Brasileirão. Mas comemorou quando os cariocas viraram o placar e golearam. Motivo: o resultado aproximava o Flu do título e complicava a vida do Corinthians, rival palmeirense e que estava na luta pelo único caneco de seu centenário.
Sabem quando, embora tenhamos certeza que algo estranho ocorreu, queremos ver uma autoridade vir a público e admitir isso? A CBF não fez exatamente isso, mas ao levar à última rodada da competição TODOS os clássicos do Campeonato Brasileiro, estampou o carimbo de que acredita que houve "entregas" de clubes interessados em prejudicar rivais em jogos decisivos. Entregas tanto no jogo propriamente dito como nos bastidores, com a escalação de reservas visivelmente para "facilitiar" o serviço do adversário.
Colocar clássico na última rodada é solução? Difícil. O jornalista da ESPN Brasil, Leonardo Bertozzi, colocou, de cara, um problema claro: onde realizar os DOIS clássicos em São Paulo e Rio de Janeiro? Inverter o mando de São Paulo e Santos, previsto para o Morumbi no returno? Será que ainda é possível? Caso contrário, sejamos realistas: como colocar os quatro grandes paulistas a jogar NO MESMO DIA, NA MESMA CIDADE, e o principal - em uma rodada que pode ser decisiva a maioria deles - até mesmo a todos?
Que dirá então o imbróglio no Rio de Janeiro? Afinal, Flamengo e Vasco, Fluminense e Botafogo, terão somente um estádio para as duas partidas. E como será o processo, levando em conta que, na última rodada, os jogos se dão no mesmo horário? Quem ficará no Engenhão? Tudo dependerá, naturalmente, do andamento do campeonato. É possível que se chegue na ocasião com somente um ou dois deles brigando por algo. Ainda assim, e se estes times forem, por exemplo, Flamengo e Botafogo, que estarão em confrontos diferentes?
Não nos esqueçamos que podemos chegar à rodada final com boa parte desses duelos ocorrer sem nada em jogo. Não é impossível que algum desses times tenha que optar em se preparar para um Mundial de Clubes ou uma decisão de Sul-Americana (com vaga na pré-Libertadores) e fazer um clássico que não lhe adicionará em nada. E aí, é aquela história: por mais que a lógica possa apontar a preparação como prioritária, perder um clássico e acabar proporcionando algum benefício ao maior rival certamente não agradará à torcida.
São muitas interrogações, tantas quanto aquelas que surgem na cabeça quando lembramos que até agora, não se sabe quem transmitirá o Brasileirão. A RedeTV ganhou os direitos junto ao Clube dos 13, mas necessita da assinatura de todos os filiados para dar sequência ao processo - o que, a julgar pelas decisões de clubes como Corinthians e os cariocas em negociar separadamente com outras emissoras, não deverá ocorrer. Já vamos chegar nas fases finais dos principais Estaduais, com absolutamente NADA definido.
Curiosamente, vemos o futebol brasileiro esboçar novidades positivas no tocante aos clubes, com uma maior atenção ao marketing esportivo - ainda que se esteja engatinhando nisso, visto que o próprio produto esportivo Campeonato Brasileiro é pouquíssimo difundido lá fora - paralelamente a todas as indefinições que o permeiam. Por essas e outras, pensar em um momento em que avanços administrativos, ainda que graduais, comecem a caminhar juntos, permanece no universo do sonho.
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