segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Clássico e crise

Por Lincoln Chaves
Você torce para um time grande que está em grave crise, com o técnico na corda bamba e que, há algumas semanas, viu o presidente pedir demissão. Chega a semana do clássico contra o maior rival e o treinador está suspenso. O jogo, porém, é em casa, e mesmo com poucas perspectivas na tabela, a vitória é questão de honra. O cenário (claro, sem o caso do presidente, que já é mais atípico) não é tão incomum, e pode ser encontrado tanto por aqui - e imagino que muita gente identificou seu clube, em algum momento, nessa situação - como fora.

É o caso atual do Sporting, um dos três grandes de Portugal. Que viu a crise ganhar novos contornos com mais uma derrota (a quarta seguida) no duelo contra o maior rival, o Benfica. Antes desse tropeço, os Leões já vinham de um revés por 2 a 0 no primeiro turno da atual temporada do Campeonato Português, de um outro 2 a 0 na "época" passada, e de um 4 a 1 sofrido nas semifinais da última Taça da Liga.

O novo 2 a 0 veio com grande justiça. Vitória de uma equipe que soube jogar, que tinha mais recursos e que, mesmo quando esteve com um homem a menos em campo, portou-se corretamente, aproveitando-se das claras limitações técnicas de um Sporting que não tinha um armador sequer, dependendo demais da correria de Yannick Djaló, mais lúcido leão em campo e responsável por, no primeiro tempo, ainda dar à torcida do time verde de Lisboa uma melhor perspectiva.

O Benfica não tinha Pablo Aimar, mas contava com uma dupla infernal de argentinos - Nico Gaitán e Eduardo Sálvio -, que sufocou o Sporting na primeira meia hora de jogo. Pela esquerda, Gaitán e Fábio Coentrão, melhor lateral do setor na última Copa do Mundo, aproveitavam das dificuldades de João Pereira, perdido à defesa, para criar. Na direita, Maxi Pereira não subia tanto, deixando o serviço de ataque com Gaitán, marcado de perto por Grimi, que substituia o bom Evaldo, suspenso.

O argentino até se esforçou, tanto que quase nunca subia para apoiar Matias Fernandez, nos raros avanços leoninos, mas Sálvio precisou de apenas um espaço para marcar, aparecendo como elemento surpresa, por trás dele próprio (Grimi) e da perdida dupla de zaga Torsiglieri e Anderson Polga. O cruzamento, que veio da esquerda benfiquista, sobrou nos pés da jovem promessa da Albiceleste, que mandou para as redes de Rui Patrício.

Além de vencer, o Benfica evitava que o Sporting jogasse, marcando a saída de bola, inicialmente em cima dos zagueiros, depois em uma linha nas proximidades do meio-campo, obrigando os Leões a tentarem lançamentos mais longos, sem sucesso. A falta de um armador, ausente em Alvalade desde que João Moutinho foi para o Porto, estava mais evidente do que nunca, tal qual a constatação de que Cristiano, visivelmente mais "duro" em campo que Liedson, e Postiga não podem jogar juntos, como postes. Resultado: Postiga teve que fazer algo que não é a dele - voltar e buscar a bola.

O Sporting começou a crescer nos 15 minutos finais do primeiro tempo, muito porque, percebendo que ninguém levava a bola à frente, Yannick passou a jogar nos dois lados de campo, puxando os contra-ataques, conseguindo faltas e cartões para os benfiquistas. Foi em uma falta nele feita que Sidnei, bom zagueiro revelado no Internacional, acabou expulso (já tinha amarelo). Com a melhora alviverde, já se pensava como o Benfica iria se segurar para a segunda etapa.

Mas se segurou, e muito bem. Sem precisar se retrancar, Jorge Jesus fez o simples: trocou um inerte Saviola por Jardel, deixando Cardozo (também sumido) à frente, com Gaitán subindo com mais frequência e Sálvio aparecendo, às vezes, como terceiro homem. E nem precisava de muita coisa, afinal Alberto Cabral, que substituia o técnico Paulo Sérgio, suspenso, demorou a se mexer. Seguiu com o poste Cristiano por mais 25 minutos no segundo tempo - e pior: colocou um terceiro poste: Saleiro.

E o jogo do Sporting, que vinha sendo de puxar contra-ataques na velocidade - e que podia ser mantido, aproveitando-se do maior espaço em campo - foi virando um show de chuveirinhos na área, sem a menor eficiência ante Jardel e Luisão. E o espaço ficou aberto aos contra-ataques. Em um deles, Gaitán avançou até quase a entrada da área, perseguido por quatro defensores e sofreu a falta. Na cobrança, a bola sobrou para Maxi Pereira, na direita. Após o cruzamento, "Nico" voleou, a pelota desviou em Polga e enganou Rui Patrício. Caixão fechado em Alvalade.

Fechado aos 17 minutos do segundo tempo? Sim. Afinal, como dito acima, o Sporting continou insistindo nos cruzamentos - sempre cortados -, dando claramente a sensação de que não seriam capazes de dar sustos aos rivais. O que fez com que a partida seguisse sem emoção, inclusive sem a velocidade do primeiro tempo, que deu um ritmo bem interessante ao confronto.

Vitória do favorito. Derrota da zebra. Sonho do título ainda aceso de um lado (o Benfica reduziu para oito pontos a diferença para o Porto, líder. Se lembrarmos que, nas três primeiras rodadas, o Benfica perdeu exatos oito pontos...), crise aumentada do outro. O Sporting só elegerá seu presidente no dia 26 de março. Quando a temporada, fatalmente, já estará perdida. E ainda há quem pense que determinadas pixotadas administrativas - e há quem duvide que elas não cheguem ao campo - só ocorrem no Brasil...

Imagem:
Jornal Record

2 comentários:

Os craques na rede disse...

Muito interessante o clássico. O som que vinha das arquibancadas era empolgante e o jogo era disputado em um ritmo alucinante. O talento de Gaitán foi preponderante para equipe visitante sufocar. No segundo tempo, quando o Sporting teria a chance de se valer do homem a mais em campo, o futebol de Djaló caiu de produção e o segundo gol parece ter sido o golpe fatal.

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Programa disse...

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